Estudantes da rede municipal de Hortolândia escrevem jornal escolar

Projeto de educomunicação estimula crianças a expressarem seus pensamentos, a reconhecerem e manifestarem as próprias emoções

Pensar, sentir, perguntar, ouvir, expressar, compartilhar. Estes e outros tantos verbos agora fazem parte da vida dos jovens comunicadores ligados ao Projeto Educomunicativo “Jornal Voz da Turma”, realizado na Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Maria Célia Cabral Amaral, no Jd. Amanda I. A iniciativa é voltada a estudantes do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental, que participam do componente curricular “Convivência e Afetos”, do Programa de Educação Integral , promovido pela Prefeitura de Hortolândia. 

Idealizada pela agente educacional Cristiana Jesus Silva dos Reis, de 43 anos, a proposta convida as crianças participantes a escreverem um jornal escolar. O objetivo é que, durante o percurso, elas aprendam a reconhecer e manifestar as emoções, bem como a expressar os próprios pensamentos, desenvolvendo o protagonismo infantil.

Com foco no desenvolvimento socioemocional, o projeto já mobilizou aproximadamente 200 estudantes, em nove turmas, resultando em seis edições impressas. As crianças participam ativamente de todas as etapas do processo: desde a definição da pauta, isto é, os temas de cobertura, até a escrita das matérias, a escolha das fotos e a organização visual das páginas. As edições contêm entrevistas com colegas e professores, piadas, receitas, enquetes sobre emoções, sugestões de melhorias para a escola, reflexões e relatos do cotidiano escolar.

Segundo Cristiana, o projeto educomunicativo, que surgiu do desejo de oferecer às crianças um espaço de escuta, protagonismo e convivência, é mais do que uma publicação escolar. Pretende ser uma experiência que ensina cada criança a escrever, ouvir, refletir e transformar o cotidiano em pauta de redação.

“Sempre busquei criar espaços onde meus alunos pudessem se expressar, entender a si mesmos e conviver melhor com os outros. Durante uma pós-graduação, uma professora comentou sobre diferentes formas de desenvolver aulas envolventes — incluindo a criação de jornais. Foi aí que surgiu a ideia: por que não criar um veículo onde as crianças possam falar sobre suas emoções, contar piadas, sugerir melhorias na escola, entrevistar colegas e professores e compartilhar o que acontece no dia a dia escolar? Levei a proposta para as crianças e assim nasceu o jornal”, explica Cristiana.

Durante o  projeto, ela utiliza rodas de conversa para que as crianças possam falar sobre suas emoções, identidade e convivência. “Na minha infância, eu não tinha oportunidade de me expressar. Falar só quando autorizada por um adulto — e sei o quanto isso pode ser limitador até a fase adulta”, relembra a educadora.

O jornal, que surgiu como uma proposta de expressão, tornou-se também uma ponte de diálogo entre as turmas, os educadores e a escola como um todo. 

“Participar do jornal foi uma experiência única. Para a gente, foi uma honra, porque nós mesmos demos a nossa voz.  Fazer parte do Jornal da Prof.ª Cris é sentir uma energia boa, algo que vai ficar na memória. Quando a gente sair daqui, vai lembrar que foi homenageado na escola”, ressaltou Emanuelly Vitória Alves de Holanda, estudante do 5º ano D.

”Para mim, foi incrível. Eu amei muito. A gente se divertiu demais. Para sair tudo do nosso jeitinho, a gente fez muitas rodas de conversa para decidir determinadas coisas”, complementou a colega do 5º ano I, Aline Maria da Silva.

“Agradeço à escola por dar a oportunidade de dar nossa voz no jornal”, afirmou a estudante Emanuela Maria de Freitas Abílio, do 5º ano D.

Nesta quinta-feira (10/07), Cristiana compartilhou com pesquisadores brasileiros a experiência vivenciada com as crianças na execução do projeto, durante o Seminário “Fala Outra Escola”, promovido pelo GEPEC (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada), no Centro de Convenções da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). No evento deste ano, que teve como tema “Fios, nós e balanços: enredar singularidades, tecer coletivos”, educadores de diferentes regiões apresentaram práticas pedagógicas inovadoras. 

De acordo com a Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia, o projeto “Jornal Voz da Turma” reforça a importância de práticas que valorizam o protagonismo infantil, os vínculos afetivos e o direito de expressão dos estudantes. A iniciativa fortalece uma educação que cuida do ser humano em sua totalidade, formando leitores, escritores e cidadãos que sabem a importância de cuidar do coletivo.